Os processos de coaching acontecem em diferentes cenários e nichos de atuação, mais recentemente o coaching tem sido reconhecido na área de saúde e bem-estar como um recurso eficaz e promissor para o apoio nas mudanças de estilo de vida e de gerenciamento de doenças.
Nas últimas duas décadas esta modalidade ganhou espaço significativo no suporte aos tratamentos médicos.
Em função dos diferentes formatos de coaching praticados, da dificuldade de consenso e de padronização para publicação de evidências científicas foi formado o “National Consortium for Credentialing Health & Wellness Coaches – NCCHWC”. Em 2017 o Consortium passou a ser Internacional (ICCHWC) e foi realizada a primeira prova nacional americana de certificação.
A área de saúde valoriza a prática baseada em evidências e diretrizes que se atualizam continuamente na literatura científica. A visibilidade do coaching em saúde na área surge como consequência do aumento de publicações científicas e estudos randomizados discutindo a efetividade do uso do coaching nos tratamentos de diversas condições como diabetes, obesidade, hipertensão e doenças cardiovasculares, câncer entre outras. O significativo aumento do número e da qualidade dos estudos publicados entre 2004 e 2017 traz uma grande credibilidade para a área e valoriza a prática baseada em evidências, bem como com as competências e código de ética de coaching alinhados com as diretrizes da ICF.
Mudanças nas composições societárias de grandes seguradoras de saúde e a entrada de capital estrangeiro trouxeram o termo “health coaching” acontecendo junto com programas de monitoramento de doenças crônicas das seguradoras para os clientes de maior utilização do plano de saúde. Começamos então a nos deparar com os diferentes formatos, protocolos e abordagens do coaching em saúde e bem-estar no Brasil.
Surge o desafio de divulgar e educar as pessoas sobre o que seria coaching em saúde e bem-estar.
Abaixo a definição atual de Coaching em Saúde e Bem-Estar (Wolever et al., 2013):
“Uma abordagem centrada no paciente em que o mesmo determine pelo menos parcialmente seus objetivos, que utilize autodescoberta ou processos de aprendizagem ativos juntamente com educação em saúde para trabalhar em direção a suas metas, e, que incentive o auto monitoramento de comportamentos para aumentar a responsabilidade do paciente. Isso acontece dentro do contexto de uma relação interpessoal com um coach. O coach é um profissional de saúde treinado em teorias de mudança de comportamento, estratégias motivacionais e técnicas de comunicação, que são usadas para ajudar os pacientes a desenvolver motivação intrínseca, recursos, estratégias e habilidades para alcançar mudanças positivas e sustentáveis em sua saúde e bem-estar. “ (Wolever et al., 2013)
Alguns tópicos acerca dessa definição merecem uma discussão amplificada:
1. Abordagem centrada no paciente: esse tema tem sido referenciado em praticamente todas as conversas sobre qualidade em saúde e já é parte integrada de algumas certificações de qualidade hospitalar. Para o coaching não é novidade visto que desde o primeiro momento nossa abordagem é 100% voltada ao indivíduo, suas crenças e seus valores.
2. Estabelecimento de metas: em coaching desde sempre trabalhamos com metas auto estabelecidas pelo cliente. Na área de saúde, em função dos riscos de comportamentos relacionados ao estilo de vida e das recomendações de instituições como OMS (Organização Mundial de Saúde), muitos profissionais aconselham seus pacientes a estabelecerem metas pré-definidas para ter resultados em saúde (ex.: caminhar 150 minutos por semana está associado à diminuição significativa no risco de doenças crônicas). Esse tem sido um bom debate em turmas de formação e cada vez mais encontramos abordagens inclusivas, nas quais algum nível de orientação e/ou educação em saúde acontece juntamente com o processo de coaching em saúde e bem-estar.
3. Autodescoberta versus aconselhamento: qual o limite da autodescoberta quando as mudanças desejadas pelo cliente podem expô-lo a algum risco de saúde? O coaching estimula a autodescoberta sempre, como um caminho do autoconhecimento e do que funciona para cada um. Entendemos que o maior especialista em si mesmo é o próprio indivíduo.
4. Auto monitoramento: o auto monitoramento é fundamental para o aumento do nível de consciência e da capacidade de tomar decisões mais saudáveis quando necessário. Somos capazes de gerenciar o que vemos e o que monitoramos, se está inconsciente não podemos agir a respeito e às vezes a doença é o último sinal / aviso que nosso corpo nos deu sobre como estamos vivendo.
5. Coach em saúde e bem-estar deve ter graduação na área de saúde: Algumas escolas entendem essa afirmação como verdade e não aceitam alunos com backgrounds diferentes para formação em coaching de saúde e bem-estar. Os riscos acontecem quando um profissional coach acompanha uma pessoa com uma doença crônica e desconhece potenciais riscos que podem estar presentes nas escolhas de metas de seu cliente (ex.: um cliente de coaching que é portador de Diabetes e inicia a partir do coaching uma mudança no seu estilo de vida com um programa de exercícios físicos. Caso o cliente comente em uma sessão sobre dores nos pés como um fator que o está limitando de alcançar suas metas, o coach deveria saber sobre o risco que está sendo trazido para a sessão e solicitar que esse cliente retorne ao seu clínico). Por outro lado, profissionais bem formados e atuando de acordo com o código de ética contribuem imensamente em saúde e bem-estar mesmo sem terem background em saúde, a própria jornada pessoal do profissional pode ser muito rica e ser um valor agregado no processo de seus clientes. Essa é uma questão merece reflexões e debates mais aprofundados.
É necessário que o crescimento aconteça de maneira organizada e respeitando as premissas de qualidade praticadas pela ICF e pelo ICCHWC, assim o coaching em saúde será reconhecido pela area de coaching e de saúde.
Daniele Kallas
daniele@coachdesaude.com.br